Casamento Homoafetivo: Avanços e Desafios Após o Reconhecimento pelo STF
- Thales de Menezes
- 10 de mar.
- 4 min de leitura
Atualizado: 9 de set.

O casamento homoafetivo no Brasil representa uma das maiores conquistas da igualdade de direitos na história recente. Reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011, ele garantiu que casais do mesmo sexo pudessem constituir família com plena proteção jurídica. A partir dessa decisão, a sociedade brasileira passou a vivenciar mudanças significativas na forma como o Estado e as instituições tratam esses relacionamentos. No entanto, embora os avanços sejam inegáveis, ainda existem desafios importantes a serem superados. Por isso, compreender os direitos conquistados e os obstáculos ainda presentes é essencial para fortalecer a proteção legal e social do casamento homoafetivo.
O Reconhecimento do Casamento Homoafetivo pelo STF
Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 132. Na ocasião, a Corte reconheceu a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar, atribuindo a eles os mesmos direitos e deveres previstos para uniões heterossexuais.
O STF fundamentou sua decisão na Constituição Federal de 1988, especialmente no artigo 1º, inciso III, que estabelece a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República. Além disso, aplicou o artigo 3º, inciso IV, que prevê como objetivo fundamental da República a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução nº 175, determinando que todos os cartórios de registro civil do Brasil realizassem casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo, vedando qualquer recusa administrativa ou judicial. Assim, a união homoafetiva deixou de depender de interpretações judiciais individuais e passou a contar com reconhecimento automático em todo o território nacional.
Direitos Garantidos pelo Casamento Homoafetivo
O reconhecimento jurídico trouxe aos casais homoafetivos direitos fundamentais antes negados ou acessíveis apenas mediante longas disputas judiciais.
Direitos patrimoniais e sucessórios
Com a equiparação, os casais homoafetivos passaram a usufruir dos mesmos direitos de herança e partilha de bens. O Código Civil, em seu artigo 1.725, estabelece que, na união estável, salvo contrato escrito, aplica-se o regime da comunhão parcial de bens. Esse dispositivo também se aplica às uniões homoafetivas, garantindo segurança patrimonial.
Além disso, o artigo 1.829 do Código Civil assegura aos companheiros o direito sucessório em condições idênticas às dos cônjuges. O Supremo Tribunal Federal, ao decidir o Recurso Extraordinário nº 646.721, equiparou definitivamente os direitos sucessórios entre casamento e união estável.
Adoção e filiação
O reconhecimento legal permitiu a adoção conjunta por casais homoafetivos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), em seu artigo 42, § 2º, prevê que a adoção pode ser deferida a casais, sem restrição quanto à orientação sexual. Essa possibilidade fortalece a proteção à criança e ao adolescente, garantindo-lhes o direito à convivência familiar em lares estáveis.
Previdência e pensão por morte
O Regime Geral de Previdência Social, regulado pela Lei nº 8.213/91, assegura pensão por morte a cônjuges e companheiros. Com a decisão do STF e a Resolução nº 175 do CNJ, o benefício passou a ser estendido aos casais homoafetivos.
Planos de saúde e outros benefícios contratuais
Planos de saúde, seguros e contratos que reconhecem dependentes também passaram a incluir companheiros do mesmo sexo, mediante apresentação de certidão de casamento ou de união estável. Essa mudança eliminou práticas discriminatórias e ampliou a proteção contratual.
Avanços Sociais e Jurídicos
O reconhecimento do casamento homoafetivo não trouxe apenas efeitos jurídicos. Ele também representou um marco civilizatório. A sociedade brasileira passou a debater com mais intensidade temas relacionados à diversidade e aos direitos humanos.
Muitos casais conquistaram maior visibilidade e respeito em ambientes familiares e profissionais. Além disso, decisões posteriores de tribunais reforçaram a proteção contra práticas discriminatórias, garantindo estabilidade jurídica e social.
Outro avanço importante foi a criação de políticas públicas inclusivas, ainda que de forma gradual. Órgãos públicos e empresas privadas passaram a adequar seus regulamentos internos para contemplar a igualdade de tratamento entre casais heterossexuais e homoafetivos.
Desafios Persistentes no Casamento Homoafetivo
Apesar das conquistas, os desafios permanecem presentes no cotidiano dos casais homoafetivos.
Preconceito e discriminação social
Muitos casais ainda enfrentam rejeição familiar e hostilidade no ambiente de trabalho. Embora a lei garanta igualdade, a realidade social nem sempre acompanha o avanço jurídico.
A Lei nº 7.716/89, que define crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, foi ampliada pelo STF para abranger a homofobia e a transfobia, equiparando-as ao racismo. Essa decisão fortaleceu a proteção penal, mas sua aplicação prática ainda encontra resistência em determinados setores da sociedade.
Resistência em cartórios
Mesmo após a Resolução nº 175 do CNJ, alguns cartórios ainda criam dificuldades burocráticas para formalizar casamentos homoafetivos. Esse comportamento gera insegurança e afronta o princípio da igualdade.
Projetos de lei contrários à igualdade
No Congresso Nacional, ainda surgem propostas que buscam restringir ou anular direitos conquistados. Essas iniciativas exigem vigilância constante da sociedade civil e das instituições de defesa dos direitos humanos.
Reconhecimento internacional
Embora o casamento homoafetivo seja plenamente válido no Brasil, sua aceitação no exterior varia. Alguns países ainda se recusam a reconhecer a validade jurídica desses casamentos, dificultando a vida de casais que buscam residência ou cidadania no exterior.
Conclusão
O casamento homoafetivo no Brasil é um marco histórico da luta pela igualdade de direitos. O reconhecimento pelo STF em 2011 e a Resolução nº 175 do CNJ em 2013 consolidaram a equiparação entre casais homoafetivos e heterossexuais, assegurando direitos patrimoniais, previdenciários e familiares.
Contudo, os desafios não podem ser ignorados. A discriminação social, a resistência administrativa e os projetos legislativos contrários aos direitos adquiridos demonstram que a vigilância é indispensável.
Garantir a efetividade do casamento homoafetivo exige o fortalecimento da educação em direitos humanos e a promoção de políticas públicas inclusivas. Mais do que reconhecer a igualdade, é necessário assegurar que ela seja vivenciada na prática. O caminho para a plena cidadania de casais homoafetivos ainda depende da união entre sociedade, instituições e poder público.
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